sábado, 29 de maio de 2010

"a menina que não gosta de nada"

Ela segurava o seu aparelho celular com as duas mãos; os olhos fixos nalgum lugar distante, além da lua que já nascia às cinco da tarde. Ela se perdia a olhar a lua de vez em quando e comentava da sua cor ou da velocidade com que subia no céu. Eu não sei se consigo prestar totalmente atenção no que ela diz, pois tento perceber cada  nuance do seu sotaque singular: desde um xingamento até uma interjeição diferente.

"A menina que não gosta de nada", eu disse, ela sorriu.

Ela não sabe que a primeira coisa que notei nela foi seus cabelos curtos, cacheados. Gosto muito quando o vento bate e ela parece não ligar para arranjar os seus cabelos em qualquer penteado comum à vaidade feminina; ela age de uma forma muito natural. Ela não via que a câmera estava apontada pro seu rosto, porém, no último segundo, percebeu e pôs as mãos na frente e fez uma cara de reprovação, mesmo assim consegui tirar a foto. Dá pra ver o relógio de pulseira quase transparente, a fitinha vermelha que contrasta com sua pele branca, e um de seus olhos quase a querer quebrar as lentes da câmera. Olhando outra vez a foto percebo que o olhar dela não é bem esse, talvez seja o estágio anterior ao da vontade de quebrar as lentes; as lentes capturaram o momento exato de algo que eu não sei definir agora. Ainda estou digerindo a imagem, a forma como segura o aparelho celular, os dedos; se olhar bem para o pescoço, posso ver um pedaço da corrente cujo pingente é a letra "B"...

Queria que minhas letras definissem com mais clareza o que vi naquela tarde e nessa foto, mas talvez isso seja um exercício inútil que estou insistindo em praticar. Quem sabe nada disso tenha esse sentido que estou tentando passar. E eu apenas estou exercitando a minha capacidade de fingir, de dizer coisas que não vejo, de descobrir coisas que não existem e de tentar viver bem com tudo isso...

Imagem: "Day_Moon" by cycoze on deviantart.com

quarta-feira, 26 de maio de 2010

franqueza

Não sei bem das coisas, mas sei enrolar. Sei dizer e desdizer. Falar e mesmo assim manter um silêncio glacial. Ahh...silêncios glaciais... como sou bom nisso! Digo qualquer coisa que me vem à cabeça, porém tudo isso é silêncio, não é o que sinto de verdade; se fosse, minhas palavras não me sufocariam, minhas palavras não me diriam que estou quase sempre errado, elas não me diriam que faço o errado a quase todo momento, enfim, elas não diriam que sou tão tosco assim. Gelado, acho que é essa a palavra. Minha família já deve ter notado, antes mesmo que eu me desse conta e começasse a me beliscar, a atentar para minha própria verdade frustrante. Antes mesmo que eu desse o golpe final do entendimento do óbvio. Este óbvio que há muito tento entender e compreender para poder modificá-lo...
O melhor de mim é que consigo me extravasar aqui, e em casa quando ouço minhas músicas. Os acordes distorcidos do Slayer, baterias ligeiras, meus olhos fechados e compenetrados em qualquer visão mítica que me venha à cabeça. Não sei se essa sensação é normal, mas parece que meu eu dá saltos a cada batida da caixa da bateria, mesmo que eu esteja apenas deitado numa rede sem mexer nenhum de meus músculos.
Entretanto não posso ouvir música o tempo todo, até porque ela perderia o sentido que tem: remédios costumam perder o efeito quando são usados sempre... Então volto a me corroer por dentro. Volto a sentir o gosto amargo de não gostar de mim (ou de partes de mim), de não gostar das atitudes dos outros e aguentar calado, me engasgar com as idiotices dos outros, sentir o cheiro acre e desagradável de qualquer ridículo...
Peço desculpas mas essas palavras estavam pedindo pra saírem de mim, foi inevitável.

Imagino que no dia que eu finalmente me entender; no dia que eu puder definir a melhor máscara pra usar; no dia que eu parar de procurar sentidos inúteis para as coisas; no dia que meus pilares de sustentação estiverem todos resistentes e bem definidos; no dia que eu não lembrá-la com uma visão romântica; no dia que eu não resumir mais minha vida a escrever sobre qualquer coisa até chegar no lugar inevitável chamado "ela"; acho que nesse dia não terei mais nada pra contar e estar vivo será sem sentido...

P.S.: Crédito da imagem: "Sand_And_Anger" by irfan fatboy on deviantart.com

domingo, 16 de maio de 2010

texto cem sentido


que sujeito Infeliz é este eu. não resiste à tentação de permanecer só, encara a realidade de uma forma que os seres humanos ditos normais não compreendem. Mas eu não me acho um coitadinho. nem quero isso, não quero que tenham pena de mim. sou o que sou, escrevo o que penso, não quero rédeas para me segurar. só quero sentir as coisas mais sublimes que possam ser sentidas; quero sentir coisas que me destruam por dentro, me deixem só o pó, e que sejam tão poderosas que me façam ressurgir de minhas próprias cinzas. essas cinzas apenas representariam o quanto arrebatadoras foram as emoções.

Talvez eu deva fazer um exercício de exagero. multiplicar o que sinto, hiperbolizar, até que me seja normal o exagero; Talvez só o exagero me faça vivo... Era asssim que pensava antes de tudo. agora vivo, e digo a vocês que esta é a experiência mais esquisita que existe: existir, viver e sentir isso é algo muito estranho para a minha percepção. viver é quase tudo, "mas o quase tudo quase sempre é quase nada e nada nos protege de uma vida sem sentido". puta merda! uma frase nunca fez tanto sentido e ao mesmo tempo não faz nenhum. essa frase representa exatamente o que vejo no dia a dia. E onde me vejo nesse dia a dia? Acordo. café. trabalho. almoço. casa. jantar. computador. duas da manhã. dormir. Onde está o sentido de tudo isso? acho que o sentido de tudo isso é exatamente tudo isso. o que mais seria? qualquer coisa além da vida quotidiana destruiria toda lógica da busca pelo próprio eu, pela busca do outro e pela busca da mudança da rotina. buscas não teriam sentido se a vida não tivesse o sentido que tem: os acontecimentos sucessivos que nos faz ser o que somos.

Crédito da imagem: once upon a time.....by `foureyes on deviantart.com

quinta-feira, 6 de maio de 2010

mais uma espístola


presumo que se eu te disser que estou realmente confuso com tudo isso você não vai Acreditar... eu sei que as folhas já caíram inúmeras vezes e no entanto o verão nunca chegou, nem chegará... você se tornou apenas a minha forma de escrever, o meu brinquedo literário... e com este brinquedo eu me divirto inventando novas formas de dizer a mesma coisa (mais do mesmo) sempre. Acho que até estou ficando bom em fazer isso.

começo a acreditar que mesmo depois de me livrar de você ainda vou continuar sendo um pseudoescritor falando de você... mesmo que outras vozes me encantem, a sua ainda ecoará lá no fundo, baixinho, feito um sussurro (adoro essa palavra)... e talvez isso seja bom...

Você vai estar lá, tranquila, no seu lugar. vivendo sua vida, com outro, cheia de vida, com um sorriso -lindo- de orelha a orelha, dizendo que agora é realmente feliz ao lado daquele cara; eu com outra, escrevendo meus devaneios direcionados indiretamente a você. Ela (que ainda não existe) pode achar que escrevo minhas coisas ultrarromânticas pra ela, mas no fundo eu vou saber que não. Foi tão fácil escrever pra você durante dois anos e meio, reaprendi a gostar disso e não quero mais perder.

Então continue calada daí que eu continuo mudo daqui também...

Só isso...

P.S.: Crédito da imagem: "letter_of_a_broken_hearted" by rushenvy on deviantart.com