quinta-feira, 3 de junho de 2010

a última epístola

Amiga (ou o quer que você seja), você me invadiu. Você ria pra mim enquanto eu abaixava a cabeça ou te evitava sem motivo algum. Eu pensei que assim seria mais fácil viver mas me enganei; você foi a maior prova de que eu estava errado. Muitas vezes passei por você torcendo para que não falasse comigo, e você falava, você sorria aquele riso grande, metálico, seus olhos grandes me fitavam por cima dos óculos; depois me abraçava e me deixava estarrecido com tudo aquilo, com você... Meu chão teimava em fugir; todos os lugares comuns das narrativas românticas teimavam em me atormentar.
Até certo ponto você foi a resposta exata para o que eu tinha perguntado (dá-lhe Raul), mas você foi tanto que no fim eu nem sabia mais o que tinha perguntado, não sabia mais quem era, eu não sabia mais ser. Por muitas vezes me senti apavorado, porém decidido a contar-lhe tudo, mas não conseguia (até hoje acho que não consigo). Depois de tanto tempo você ainda me deixa abobado, bestificado, impressionado quando me aparece ou quando recita poemas. Nunca me esqueço daquela vez em que tocou aquela música da Paula Toller ("O que é que eu sou")... Acho que você sabe...
Você já doeu muito em mim, mas agora não. Agora você adormece tranquilamente em mim, até o momento em que eu te vejo e você acorda fazendo muito barulho, dizendo "oi" ou gritando o meu nome; e meus ouvidos parecem ficar sensíveis de mais. Eu te cumprimento. Beijo o seu rosto e me dá vontade de sumir contigo, de te raptar, mas não... Você tem uma vida, sua vida. Tem ele que te rapta, tem sua dança que te completa... Eu chego à conclusão de que tenho pelo menos alguns minutos de completude toda vez que converso contigo. Isso não me basta mas consola.

Numa madrugada dessas tive a certeza de que você ainda não tinha sumido de mim: ele, você, uma praça... Ah...!! Que inveja!!!

P.S.: Prometo que essa é a última!

Imagem: "Rain_Dance_03" by fbuk no deviantart.com

Um comentário:

Unknown disse...

Quando li este post tive que voltar para ler a outra espístola, e gostei da frase "(...)começo a acreditar que mesmo depois de me livrar de você ainda vou continuar sendo um pseudoescritor falando de você..."
Se livrar? Acho que não!! (risos)
E outra espístola que com certeza não seria a última aparece...